Amarildo

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terça-feira, 2 de março de 2010

O Policial Militar é um Homem Público

     Ser policial, não é algo simples. O policial militar é um homem público; está em contato com todos os estamentos sociais, e nas mais variadas situações. Num mesmo dia tratará o homem da honestidade mais ilibada e o assassino ou traficante de drogas. Deverá ter para com aquele um "modus operandi" e um linguajar completamente distinto do que terá com este. Estará exposto, numa fração de segundos, a situações que poderão custar-lhe a vida. Em razão de seu trabalho profissional, o policial militar está à vista de todos, sejam cidadãos de bem, sejam mal-feitores. Uns o verão como um defensor, outros como inimigo. Estes últimos, entretanto agem sempre às escondidas, e não são identificáveis por uniformes ou dísticos como os homens e mulheres da Polícia Militar.
     Não tardará que ocorram circunstâncias em que o policial militar - que é um trabalhador como qualquer outro, que geralmente possui família, e via de regra é um homem de honestidade inquestionável -, ver-se-á no limite do legal, na estreita linha divisória que o separa do mundo do crime. Poderá ocorrer que se corrompa porque talvez não tenha motivação suficiente para permanecer irrepreensível; talvez, faltar-lhe-á formação humana e profissional suficiente para reconhecer a ilegalidade do seu ato. Poderá pensar no seu baixo salário, nas necessidades de sua família - talvez aquele filho que deseja cursar uma faculdade, ou aquela viagem de fim de ano que prometeu há anos, ou, ainda, o que é mais grave, o local onde mora que pode ser uma favela -, poderá pensar que mereceria ganhar mais pelo que faz, etc...
     Entretanto, muitos não reagem assim. Na imensa maioria não cederão, não compactuarão com o crime... e então ficarão marcados. Os marginais não costumam distinguir o homem de sua profissão, nem o policial de sua família. Muitas vezes, ameaçado de morte, e após recorrer a muitos meios sem sucesso, aquele homem honesto poderá ver-se tentado a fazer justiça com as próprias mãos... e então, fria e descaradamente, irá integrar as estatísticas do Relatório da Comissão Interamericana de Direitos Humanos.
     Não é simples ser policial. Os Direitos Humanos não valem para ele. Valem para os pobres, os negros, os ricos, os brancos, os índios. Valem para os marginais, os indiciados, os condenados, os criminosos (nada mais justo pois são todos iguais, todos homens e mulheres sujeitos de direitos), mas são as vítimas; o vilão é o policial. Para ele, só obrigações. Onde estão as abordagens da condição em que o Governo Estadual obriga seus policiais militares a trabalhar? Fornecem-se viaturas, fardas novas, mas o homem - que trata-se do elemento mais fundamental da atividade policial - é sucateado. Seu salário é vergonhoso, sua formação é elementar - não por culpa da Polícia Militar que não busca votos em eleições -, seus equipamentos obsoletos ou defeituosos, a legislação não o resguarda; ele é sempre o vilão, a presunção de veracidade dos atos administrativos, ne-le é questionada; a opinião pública, graças àquela propaganda fortemente ideológica e parcial, está contra ele. Quando age correta e até heroicamente, disso nem sequer se faz menção - pensa-se: "cumpriu com sua obrigação; para isto é pago".
     Com tão irrisórios salários, primeiro só buscam a profissão aqueles que não possuem muita qualificação - conseqüentemente a seleção é insatisfatória para os anseios da sociedade -; segundo, a grande maioria dos policiais vê-se obrigada a buscar uma atividade extra-corporação, o famoso "bico". Com uma má seleção, não se pode exigir que estes homens compreendam conceitos muitos elevados de cidadania nem que ajam com completa isenção diante de fatos criminosos que abalam e revoltam até os mais esclarecidos. Já a atividade extra-corporação acarreta sérias conseqüências tanto a nível profissional, como em termos pessoais.
     Profissionalmente o chamado ‘bico’, sendo exercido nas horas de folga, leva o policial ao "stress" físico e mental em pouco tempo. Muitas vezes trabalhando durante toda a noite na PM, policiais deixam o necessário repouso para trabalharem fora durante o dia, o que traz como conse-qüência que venha a dormir durante seu serviço, seja na PM seja no ‘bico’. Os que trabalham de manhã vivem o mesmo regime, apenas invertendo-se os horários. Neste dia-a-dia, muitos são vitimados nas ações por estarem fisicamente pouco dispostos.
     Ainda no campo profissional, ocorre que por vezes, o "bico" paga mais que o Governo, o que leva o policial a ser mais pontual e melhor cumpridor do seu dever fora da corporação, passando, em pouco tempo, a desprezar sua profissão principal. Com este sentimento acaba por ser um profissional tendente ao relaxo, ao pouco caso, à ausência de empenho.
     O "bico", é voraz, implacável; não concede folgas, não dá garantias, pode fazer do PM um mercenário. Logo o policial pode passar a ver a PM como "bico", e o "bico" como profissão. É no "bico" que muitos morrem, já que esta atividade, via de regra, constitui-se em segurança patrimonial ou pessoal; é no "bico" que surgem as corrupções, as inversões de papéis, sendo freqüente que o superior hierárquico seja comandado por seu subordinado.
     A vida pessoal do policial, também aí encontra sua ruína. Com pouco tempo para a família - já que nas horas de folga está trabalhando -, massacrado por um "stress" desumano, estará exposto a vícios de bebidas e drogas. O número de divórcios na PM é grande, mesmo assustador; os suicídios também ocorrem, mas não com tanta freqüência. A causa não é o regime militar como querem alguns, mas o baixo salário que leva o homem a buscar seu sustento fora da Corporação.
     Vemos que - como sempre aliás - ataca-se a PM por fatos dos quais ela é a primeira vítima. O Estado é o primeiro responsável pela pés-sima distribuição de rendas no país, pela insuportável concentração humana nos grandes centros, e pelas conseqüências claras destas omissões. Aí nascem as favelas, as crianças de rua, os inúmeros vícios, os crimes. A Polícia Militar sofre implacavelmente todos esses efeitos, pois como já dissemos, está visceralmente ligada a eles. Igualmente, é o próprio Estado que coloca o PM no interior de uma favela para perseguir traficantes armados até os dentes, com apenas um revólver nas mãos. Nesta circunstância a violação de direitos humanos é eminente já que o PM tem que cumprir seu dever e ao mesmo tempo defender sua vida.



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